Comunidade indígena do AM transforma áreas degradadas em sistemas agroflorestais sustentáveis
09/03/2025
(Foto: Reprodução) A comunidade Tatuyo cultiva mudas de árvores nativas, como andiroba e castanheira, garantindo uma fonte de renda sem destruir a floresta. Reflorestamento traz perspectiva de um futuro melhor para comunidade indígena no Amazonas.
Rede Amazônica
O futuro da floresta está sendo reescrito na Amazônia. Em uma comunidade indígena de Manaus, um projeto de reflorestamento transforma áreas degradadas em agroflorestas sustentáveis, unindo saberes tradicionais e ciência.
A comunidade Tatuyo cultiva mudas de árvores nativas, como andiroba e castanheira, garantindo uma fonte de renda sem destruir a floresta.
"Há muito tempo eu sonhava com isso, mas não tinha como buscar conhecimento. Hoje em dia, graças a Deus, esse sonho está sendo realizado. Eu coleto sementes, ando por onde me convidam, falo sobre reflorestamento, porque precisamos recuperar a Amazônia. Isso não é só para nós aqui, é para todo mundo", diz Edmildo Yhepassoni, indígena da comunidade.
Para a esposa de Edmildo, Cármen Yhepassoni, o trabalho de reflorestamento é também uma maneira de garantir o futuro de seus filhos e netos.
“Eu quero que meus filhos, meus netos, plantem junto comigo. Que todos trabalhem juntos para que isso cresça e se torne algo grande."
A nova geração também está comprometida com o futuro da floresta. Santiago, filho de Edmildo, vê no projeto uma oportunidade de garantir um futuro mais sustentável para sua comunidade.
"Daqui a alguns anos, isso aqui vai estar com árvores altas, que dão semente, frutos, sombra. Vai ser melhor, porque daqui pra frente, a gente vai plantar agora, vai ter pequenas árvores, mas logo estarão grandes, pra nossos filhos colherem e plantarem."
O trabalho de reflorestamento é também uma maneira de garantir o futuro.
Rede Amazônica
Com o apoio do projeto Reflora, realizado pelo Instituto Ipê, comunidades locais têm se tornado protagonistas na preservação da floresta.
"O projeto surgiu da própria demanda dos comunitários, o que é mais interessante, porque aí a gente está surgindo como uma instituição apoiando essas atividades vindas da própria comunidade. Isso fortalece ainda mais a Reserva de Desenvolvimento Sustentável e, consequentemente, a cadeia da restauração no estado do Amazonas. A escolha das espécies não é aleatória, envolve técnicas específicas para cada tipo de solo e necessidade da comunidade, desde o uso madeireiro até o artesanato", afirma o coordenador executivo do projeto Reflora, Paulo Roberto Ferro.
Mas, para que as mudas cheguem a essas áreas distantes, é preciso enfrentar desafios logísticos.
"A dimensão amazônica é tudo maior, mais gigantesca, e a logística não deixaria de ser um dos grandes desafios. Para trazer as mudas até a última comunidade da Puranga, foram pelo menos 6, 7, 8 horas de barco. Muitas espécies vieram de longe, até de Rondônia e da divisa com o Pará. No futuro, a gente quer coletar e produzir as mudas aqui mesmo, reduzindo custos e garantindo espécies mais adaptadas", completa Paulo.
A implementação do sistema agroflorestal tem se mostrado eficaz para o cultivo de diferentes espécies. proporcionando um ciclo de vida que beneficia tanto o solo quanto as futuras gerações, conforme explica a extensionista Ananda Matos.
"o sistema agroflorestal é uma técnica de restauração produtiva que vincula espécies agrícolas, espécies florestais e espécies frutíferas, trazendo um retorno não só econômico, mas também ambiental para aquela área. a curto prazo seriam as agrícolas, a médio prazo as frutíferas e a longo prazo as madeireiras, que podem trazer não só madeira, mas também produtos não madeireiros, como sementes e casca para chá e remédio."
Depois de sete horas de barco pelo Rio Negro, sete mil mudas de árvores nativas chegaram à Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Puranga Conquista, em Manaus.
"Sustentabilidade não é só sobre conservar a floresta, mas também sobre gerar renda para quem mora aqui. O projeto ajuda a fortalecer a economia local, seja pela produção de mudas, pelo manejo sustentável ou pelo uso das sementes. Tudo isso cria oportunidades para as comunidades e contribui para a restauração florestal em uma escala maior", afirma Paulo Roberto Ferro.
Além da recuperação ambiental, o projeto incentiva a geração de renda para 18 comunidades, com a coleta de sementes e produção de mudas. As matérias-primas também podem ser usadas na indústria de cosméticos e medicamentos, conectando a biodiversidade amazônica ao mercado sustentável.
"Quando as árvores crescerem, o clima vai melhorar, a água vai se normalizar. O problema não é a natureza que está se acabando, é o ser humano que está destruindo. Precisamos reflorestar, plantar madeira de lei, frutas, trazer alimentos para nossas famílias. Isso é o que queremos para o futuro", conclui Yhepassoni.
Amazônia Agro deste domingo, 09 de março de 2025